quinta-feira, setembro 17, 2009

Mulheres Possíveis


Sempre soube que não era perfeita e, à medida que o tempo passa, cada vez mais confirmo aquilo que sentia: não sou perfeita (também nunca o pretendi ser), nunca pus nada à frente da minha família e o meu bem-estar físico e, principalmente psíquico, é muito mais importante do que um punhado de euros dentro da carteira.
Quando encontrei este texto, identifiquei-me com muitas das linhas escritas e achei bom partilhar com todas as mulheres que, tal como eu, acham bom não ser perfeitas, mas felizes. Ou pelo menos, fazendo por isso.

" Mulheres Possíveis
(Texto de Martha Medeiros - Jornalista e escritora - na Revista do Jornal O Globo)


'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço escova toda semana - e as unhas!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias.

Cinco dias!

Tempo para uma massagem..

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'.

Martha Medeiros - Jornalista e escritora

4 comentários:

  1. Rosita
    Belo texto que escolheste!
    Concordo com cada palavra. Temos a mania de ser super-mulheres e esquecemo-nos de ser felizes. Vivam os 50 anos, que me ajudaram a reequacionar as prioridades da vida!
    Bjs

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  2. Já conhecia este texto e até o publiquei no blog da U senior. Habituaram as mulheres a serem superes, a serem perfeitas, a aguentarem tudo, a trabalharem como desgraçadas, em casa e fora. Mas.., não pode ser e temos de ser nós a dizer basta! Somos seres mormais e imperfeitos; temos de ser só aquilo que pudermos e quisermos.Gosto muito dos textos de Martha Medeiros; tem outros também interessantes. Eu já há muito que decidi não ser perfeita..., faço o que me apetece e o que dá prazer; já me habituei a dizer não quando tal programa não me agrada e mesmo quando é para saír com amigos, se não me agrada, simplesmente digo não e fico. Entendem..., muito bem, não entendem, paciência. Agora só faço e só vou se relamente me interessa e me deixa feliz; já fiz muita coisa contrariada, mas, não sou perfeita, não agrado a todos nem todos me agradam e além disso nem tudo me agrada também.Um beijinho e que seja a mulher possível; santas estão no altar e guerreiras..., bem..., aqui no nosso país não há guerra. Um beijinho

    Emília

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  3. Olá,Romicas!
    Texto muito bom mesmo.Eu já tomei uma nota:tenho de aprender a desaccelerar e nao andar sempre a mil a hora.E acho que vou a procura dessa pousadinha rústica à beira-mar.
    Entretanto,o "passeio" foi em Idanha-a-Nova.Venha ver o blog da Aldeia da Minha Vida e verá do que falo.Lindissimo!E também conheci uma artesã fantástica que está retratada no blog Clube das Mulheres Beirãs.
    Jocas gordas
    Lena

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  4. Romicas, vi que visitou o nosso blog. Há dias disse-lhe que aceitaria o seu desafio mais tarde, pois tinha um post importante no meu blog que gostaria que ficasse algund dias; não me referia a este da Hermínia( tb importante..), mas sim aos anteriores que referem dois blogs de mulheres fantásticas que lutam contra o cancro com muita coragem. Um pertence a uma minha amiga brasileira e outro a mulheres portuguesas. Não sei se viu. No entanto vou deixar aqui o nome dos blogs para visitar de quiser. São verdadeiras lições de vida. O blog O Presente do Presente e superglamorosas.blogspot.com
    Um beijinho e um bom fim de semana

    Emília

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