Angústia
"Começa devagar na base do estômago, paulatino, quase como uma insinuação imperceptível, e avança pelo externo até alcançar os arredores do coração onde se instala e inicia sua devastação emocional. Então tudo se mostra reconhecível e palpável, por assim dizer, é o principio da angústia se instalando e dominando o corpo inteiro a partir daí, sem qualquer possibilidade de saída, a vítima fica indefesa, e ela vai-se tornando extremamente forte em pouco, tomando totalmente de conta de suas emoções. Desse momento em diante, a expressão facial do angustiado decai e surge explícito aquele olhar distante e melancólico, perdido, tão característico, um jeito abertamente triste de mostrar sua dor de maneira a ser visível para todos. A angústia é como um lento torniquete estrangulador.
A vontade irremediável, desse ponto em diante, e isso está evidente nos olhos murchos do angustiado, que se vê como perdido nalgum lugar vazio e solitário do deserto emotivo, é chorar copiosamente, cabisbaixo, mãos na cabeça, olhos fechados, por qualquer razão, plausível ou não, deixando as lágrimas afogar esse instante que corrói a alma e provoca irremediáveis contornos de depressão. Uma palavra amiga repentina agora, tão bem vinda como uma tábua de salvação no mar revolto e de ondas violentas, certamente vai contribuir para o incremento do choro, fazendo-o convulso como são os decorrentes das grandes amarguras capazes de atormentar profusamente. Se ao murmurar dessa voz confortadora seguir a suavidade da mão gentil sobre o ombro ou um abraço animador precedido do sorriso estimulante, seguramente haverá soluços intermitentes à guisa de desabafo profundo. Porque nenhum ser humano tem condições de sufocar a torrente de lágrimas quando alguém se aproxima para, com seu carinhoso jeito de ternura e amizade, amenizar o ímpeto frenético da angústia instalada.
O arroubo de chorar acalma as batidas aceleradas do coração, diminui o tamanho do bolo que incha o estômago, que logo vai perdendo seu furor, os olhos voltam a apresentar a pouco e pouco o brilho desaparecido e já se vê alguns traços de sorriso avultando no rosto, que recupera resquícios do rubor anteriormente escondido no recôndito da melancolia. E assim como, com suas garras titânicas à guisa de tenazes, a angústia se assenhorou de alguém por razões diversas, o desabafo aliado à doce palavra amiga e mais o abraço reconfortante, ela por vezes se vai e o alívio retorna triunfante. A angústia magoa, fere, dói. Mas depois que escoa bordas do coração afora e tudo volta a funcionar a contento, a alegria se reinstala e logo, imponente lidera e tranquiliza." (in, Gilbamar - poesias e crônicas)
Gostei muito desse texto. Quem não sentiu já uma angústia? parece-me que serão poucos os que responderão « não »...; E tudo isso se sente até que chegue a nossa amiga « lágrima » e nos ajude a aliviar um pouco a pressão que ela exerce sobre o nosso coração.A Angústia é terrível!Vi hoje por acaso uma mãe angustiada...; doeu-me nuito! Um beijo
ResponderEliminarEmília
Minha amiga Romicas, que bela, agradável e maravilhosa surpresa você me proporcionou hoje! Vim ao seu blog para deliciar-me com seus textos e encontrei o meu "Angústia", que você gentilmente transcreveu para todos os seus amigos, honrando-me por demais. Muito obriga, minha amiga, pela incomensurável alegria que vc me proporcionou. Seu blog continua lindo e agradável. Eu e Ana estaremos viajando, na madrugada deste dia 09, para Buenos Aires, assim, passaremos uns dias sem visitar os amigos. Na volta, se Deus quiser, retomaremos nossas atividades normais.
ResponderEliminarPoético abraço do amigo Gilbamar, agradecendo sempre sua amizade e gentis comentários em meus blogs.
Nem a propósito aquilo que acabei de ler no seu blog. Curiosamente escrevi precisamente sobre a angustia no meu que não chega à qualidade aqui transmitida neste texto.
ResponderEliminar