Tinha prometido a mim própria que, durante estes dias de interrupção lectiva, que contará a partir de 24 de Dezembro e não desde sexta-feira, 18, dia em que as criancinhas ficaram de férias, não falaria de escola, de alunos, de directores, de avaliação, de... Só que não é possível, porque não tenho sangue de barata e custa-me muito ouvir (ou ler) certas coisas que me dão volta ao estômago.
Já fui filha e já fui aluna. Há uns anitos, é certo, mas tenho um orgulho imenso em pensar que sou uma pessoa com educação, seja em que situação for e seja para quem for.
Sei também que os tempos mudaram e, infelizmente, teima-se em dizer que as coisas de hoje estão muito diferentes das que eram antigamente. Será que isso quer dizer que os valores morais também já não são os mesmos e, por isso se deve aceitar tudo o que nos vai surgindo pela frente?
Como mãe e como professora, teimo em dar, aos meus filhos e aos meus alunos aquilo que acho correcto para alguém que, um dia, vai ser adulto, vai lidar com tudo o que é a nossa sociedade e em que todos estamos inseridos. A minha mãe sempre me dizia que
a educação não se adquire numa universidade, e todos os dias eu confirmo, com grande veemência ,o que ela afirmava. E cada vez mais, sempre que tenho alunos que mostram sinais evidentes de uma grande falta de educação, de civismo e de respeito para com o Outro.
Creio que até hoje, os dedos de uma mão devem chegar para contar as participações que fiz de alguns acontecimentos nas minhas aulas. Resolvo todos os "problemas" que possam surgir e, só em último caso recorro ao Director de Turma. A única vez que precisei da presença de alguém do Conselho Directivo, na Biblioteca, quase levei com uma cadeira em cima, e, mesmo assim, para haver alguma reacção, foi necessário gritar no gabinete. Mas adiante...
Nas minhas aulas, tenho como lema, o respeito mútuo e a educação. Custa-me ver alunos que se espreguiçam de tal forma que quase se deitam na mesa de trás; não suporto estar a falar com um aluno que, nesse preciso momento tem um dedo na sua cavidade n
asal, numa prospecção intensa, talvez na esperança de encontrar, no terreno, algum filão mineral; não aceito linguagem imprópria e como tal, refiro-me a palavrões começados por
"C",
"F" e outras letras do alfabeto, que em nada estão ligados com a aprendizagem da Língua Portuguesa; não permito que os alunos se exprimam contra os seus colegas, levantando-se do seu lugar para agredir o outro; e, de modo algum, aceito que um aluno seja agressivo e falte ao respeito à minha pessoa, mandando-me para aqui ou para acolá.
Será que, agindo desta forma, estou a reprimir os meus alunos?
Vem este poste a propósito de um outro que fui ler no
ProfBlog, que, como sempre está bem atento ao que vai saindo, não só a nível da A.D.D., mas de todos os assuntos referentes à profissão de quem tem a seu cargo o ensino e o desenvolvimento social, cívico e intelectual dos nossos homens e mulheres de amanhã (profundo e demasiadas vezes já dito, mas verdadeiro).
Segundo esse tal poste, com o título
"Mais um psícólogo a atirar as culpas da indisciplina para cima dos professores", eu poderei ser considerada uma professora opressora e incapaz de
ouvir os pontos de vista dos meus alunos. Coitados deles. Até já tenho pena do mal que lhes tenho andado a infligir...
O engraçado é que estes estudos e estas conclusões são sempre feitas por senhores que estão fechados nos seus gabinetes, mito bem sentados, sem fazerem a mínima ideia do que é HOJE ser professor numa sala com 26 alunos, daqueles que, individualmente, ou seja sozinhos, em casa, só com os pais, muitas das vezes são impossíveis de aturar (palavras de alguns pais). Agora ,juntem esses meninos todos, metam-nos numa sala e esses ditos senhores que venham com essa psicologia de trazer "por gabinete" para dentro desses mesmos espaços. Aceitarei opiniões de alguém que esteja no terreno, todos os dias, como eu e tantos outros profissionais estamos.
No final da vossa leitura, digam da vossa justiça e deixem-me sentir que, afinal, eu não sou tão má assim.
"Luís Picado, coordenador do Instituto Superior de Ciências Educativas - uma escola privada de formação de professores que tem lançado milhares de docentes para o mercado - fez um estudo com o título "A indisciplina em Sala de Aula: Uma Abordagem Comportamental e Cognitiva" e chegou às habituais conclusões: 1. "Os professores são os responsáveis pelos problemas de indisciplina na sala de aula".2. "Boa parte dos conflitos resulta da incapacidade que o professor tem de ouvir os pontos de vista dos alunos" 3. "Os professores não souberam adaptar-se às novas realidades".
Estas teses têm eco nos serviços de inspecção. Professor que faça participação de alunos é docente marcado. São por isso cada vez mais os que ignoram as situações de
indisciplina, beneficiando o infractor e transmitindo a ideia de que todos os
comportamentos são aceitáveis. Luís Picado acha que a
indisciplina é uma questão de expressão dos pontos de vista dos alunos. Os alunos que impedem os outros de aprenderem estão apenas a exprimir um ponto de vista pessoal? Um ponto de vista tão estimável como qualquer outro? Os alunos que usam linguagem obscena na sala de aula estão, afinal, apenas a ser criativos? O problema é do professor que, ao sancionar tais comportamentos, faz uso de intolerância face aos "diferentes pontos de vista". Os alunos que insultam os professores estão apenas a exprimir a suas frustrações? Os professores que reprimem esses comportamentos estão a impedir que esses alunos libertem os seus pontos de vista?
Portanto, meus caros, sigam estes "sábios" conselhos: a indisciplina só existe quando é reportada às instâncias superiores. Aguentem, ignorem que ela existe, olhem para ela como o resultado da expressão de diferentes pontos de vista e, pronto, a indisciplina desaparece. E se houver algum aluno que queira descarregar as frustrações num saco de boxe, ponha o corpo a jeito."(Publicada por Ramiro Marques)